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O Mercado de Aeronáuticos no Contexto da Guerra da Ucrânia e Rússia

Por Juliana Souza e Juliana Oliveira

Após quase dois anos de stress relacionado à pandemia e perdas bilionárias na indústria de seguros, a segunda metade de 2021 sugeriu uma recuperação para o mercado global da aviação. Porém, a decisão do Presidente russo Vladimir Putin de invadir a Ucrânia e a consequente turbulência geopolítica criaram uma renovada sensação de incerteza, lançando uma sombra de dúvida sobre qualquer otimismo em torno de uma possível retomada.

Posteriormente, as sanções e medidas restritivas impostas à Rússia trouxeram desafios logísticos e financeiros significativos para as linhas aéreas, bem como para lessores. Este contexto trouxe uma série de novos desafios e ocorre em um momento em que clientes, brokers e seguradoras ainda debatem a respeito dos impactos em torno do legado da pandemia: antes da guerra, as linhas aéreas tiveram a maioria dos seus voos paralisados e o fluxo de passageiros reduzido significativamente, além de ter que lidar com percentuais elevados de afastamento da tripulação por conta da contaminação do Covid-19.

Em resposta às sanções e medidas restritivas que lhes foram impostas, a Rússia implementou no dia 14 de março de 2022, uma nova lei que permite que o Estado possa apreender aeronaves que pertencem a empresas estrangeiras de leasing. A Moody’s estima que as seguradoras que atuam no ramo de aviação poderão ter de US$9 bilhões a US$11 bilhões em sinistros e previu que 20% a 30% seriam repassados aos resseguradores. A Fitch Ratings informou que as reclamações de sinistros num pior cenário, podem chegar a US$ 10 bilhões e numa situação mais pragmática seria entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões de prejuízo total.

Além disso, existe uma especulação de que os subscritores de Casco Guerra (Hull War) possam ter emitido a notificação de cancelamento de cobertura logo após o início da invasão da Rússia e antes da imposição de sanções. Apesar dos números expressivos, é fundamental enfatizar que este cenário ainda é incerto uma vez que ainda será amplamente discutido na esfera jurídica sobre quais são as coberturas aplicadas e levará anos para que as estimativas possam ser apuradas.

Juliana Souza, Diretora Executiva da Latin Re e responsável pela área de resseguros facultativos comenta:

“Sob a perspectivas das colocações, os Programas de Resseguro das linhas aéreas, em sua maioria, ocorrem somente após agosto e existe uma longa curva de aprendizado até lá para que possamos afirmar como as renovações deverão ocorrer de fato. Entretanto, o que se espera é que o mercado até lá tenha acalmado os ânimos e que as reservas dos prejuízos estimados estejam mais precisas, o que viabilizará um posicionamento mais assertivo. O compromisso da Latin Re com os nossos clientes será para destacar a resiliência das linhas aéreas para driblar os desafios diários, em um cenário tão incerto e ainda terem conseguido prosperar no que tange a respeito do significativo aumento do fluxo de passageiros em comparação à 2021”.

As mudanças significativas que imaginamos serão como os lessores deverão exigir os seguros num futuro próximo.

Com relação à aviação executiva, a Latin Re tem tido sucesso nas renovações dos clientes que não tiveram sinistros, sendo possível manter as taxas flat com relação as coberturas de Casco, Responsabilidade Civil e Franquia de Casco. Notamos pequenas variações de taxa para riscos pontuais e percebemos um considerável aumento no custo da cobertura de casco-guerra.

Juliana Oliveira, Diretora de Soluções Estruturadas complementa:

Nas renovações de contratos de resseguro do Brasil estamos percebendo o questionamento dos Resseguradores quanto a riscos domiciliados ou com exposição à Rússia ou Ucrânia; se as apólices emitidas possuem cláusula de embargos e sanções e como as cedentes analisam seus segurados com relação à adesão às sanções internacionais.

As renovações de 2022 devem se apresentar num outro período complexo, com a continuação da tendência de aumento de taxas, principalmente nos negócios de Casco Guerra.

Ainda não há uma direção clara do mercado e como todas as variáveis irão se desenrolar, mas, se estas perdas se materializarem haverá uma contaminação em toda a indústria e em todos os setores.

A única certeza que temos hoje é que os últimos acontecimentos serão disruptivos para o mercado, haja visto o potencial prejuízo para seguradoras e resseguradoras. Estamos acompanhando este cenário de perto, para darmos todo o suporte aos nossos clientes!